quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A minha avó Ai e as filhós



Quando chegámos à casa da vovó Ai ela estava ao telefone a falar com o meu tio, que também anda a querer sacar a receita das filhós. Andamos todos ao mesmo. Sinto que estou no bom caminho.

"Vamos lá ver se eu ainda me lembro..." diz a minha avó quando nos preparamos para atacar. Isto começa bem... Bom, aqui vamos nós - a minha avó lança-se com segurança! Eu sigo-a de mansinho, estou a pisar terra desconhecida, não tenho medo, mas apreendo...

500 gr farinha com um poucachinho de sal
1 ovo
2 colheres de sopa de bom azeite (a minha avó insiste sobre o "bom" azeite)
1 cálice de aguardente
2 laranjas grandes espremidas à mão

Bate-se tudo primeiro à máquina e no fim a minha avó gosta de bater só um bocadinho mais. Fica melhor !

Agora a minha avó lava a loiça. Cada vez que é a batedeira eléctrica a trabalhar, ela lava os utensílios que usou para trabalhar, a cozinha deve estar sempre limpinha. Começo a perceber porque é que as receitas quando vão para as minhas mãos não dão os resultados pretendidos...

A massa ainda está muito mole. Então, toca de pôr mais 3 mãos cheias de farinha.

E eu a pensar que se seguia a receita e pronto. A minha avó sempre soube esta receita e nunca a escreveu. A cada vez que a faz adapta as quantidades, conforme a massa vai ficando. É tudo uma questão de feeling... Acho que eu nunca vou compreender... Simplesmente tenho o meu instinto básico de cozinhar amarfanhado. Ou se calhar não, os pré-históricos, que era quem tinha esta coisa dos instintos mais desenvolvida, não comiam tudo cru e sem tempero?
Portanto, esta é a regra essencial. Temos que estar atentos. Temos que "ouvir" a massa. Ela tem que estar pronta. Compacta.
A minha avó agora parece satisfeita com a textura da massa, quando levanta a batedeira, a massa vai colada às pás, isto deve ser um bom sinal.

A minha avó colocou a massa na mesa, amassou-a, lançou-a ao ar, atirou-a à bancada.
Acho que é agora que começa a acção. A massa aparentemente faz parte dos maus e a minha avó está claramente a dominar a situação. Começo a desconfiar que ela tem umas noções de Kung Fu. Eu estou a gostar bastante disto tudo. Peço para participar. Adoro cozinhar, afinal !

Agora a massa está molinha, já não pega na banca. Ah, não esquecer de pôr farinha na bancada de vez em quando, pelo menos enquanto ela pega.
Se no final desta operação há farinha no chão e nos vossos cabelos (e em tudo o que mexe, ou não e que está à volta) é porque estão a executá-la com sucesso.

A massa agora tem que repousar.
Ainda por cima a minha avó é misericordiosa, grande avó, santa avó.
Vamos almoçar.

Estender a massa. Fininha.

Nota de rodapé, que a minha avó introduziu agora : Quem a ensinou a cozinhar foi a Titicas (não conheço), que era amiga da família e excelente cozinheira. A mãe da minha avó morreu cedo e não teve tempo de iniciar a minha avó nestas artes, de modos que a "nossa" Aidinha ia para a cozinha da Titicas, com a sua amiga Dudu para aprender e ajudar. Obrigada Titicas !

Depois temos que cortar.
Ver na foto como. Eu nunca aceitaria comer filhós que não tivessem estas formas !

Na panela de óleo a arder põe-se duas, no máximo três filhós de cada vez, vira-se e tira-se do óleo quando estiverem douradas.

Quanto ao molho, água e açucar em calda. Há quem ponha canela, mas a minha avó não, decidiu pôr desta vez raspas de casca de limão.
Eu dir-vos-ia bom proveito aqui, mas não seria apropriado, porque estas são para mim !

Bom Natal!
E não liguem às calorias, quem gosta de nós a sério, também gosta de nós com 4 quilos a mais !

1 comentário:

  1. eis que aqui descubro a massa da minha tia-avó . a tal , das filhoses de batata doce , a tal que é sovada e que se não fizer língua de vaca não presta . pois , é por isso que a sua avó bate com ela na bancada. se não fizer a língua sem partir , não estende como deve ser com o rolo e não fica fina . óptima receita . obrigado e beijo respeitoso

    ResponderEliminar